Faz três meses que me mudei para São Paulo, e em meio a todo um turbilhão interno e externo que significa uma mudança, pude encontrar lugares de respiro e acalanto na cidade. Eles vieram através de novos abraços, de uma ligação para casa, em ver meu lar aos poucos tomando forma e na descoberta de restaurantes e cafés que me serviram mais do que comida, me deram muitas vezes colo e companhia. Pude visitar lugares no mundo que eu ainda não havia visitado, pude me demorar quando os dias se arrastaram ou quando eu só precisava comemorar e pensar: “como a vida é boa”.
Meu papel aqui, no SS, era falar de um só lugar nesse primeiro texto para coluna, mas resolvi falar de dois que significaram esse respiro pra mim. Por acaso, minha melhor amiga da vida, Larissa, veio ficar comigo uns dias, e eu quis mostrar para ela como esses lugares são tão incrivelmente deliciosos e o porquê deles serem especiais pra mim. Divido, aqui, com vocês tudo que o que contei e apresentei para ela.
Nosso passeio afetivo gastronômico começou com um café da manhã no Futuro Refeitório, lugar que abriu há pouco tempo, quase na mesma época que cheguei à cidade, e que em meio há tanto burburinho sobre o lugar, chuva de fotos no Instagram com o famigerado letreiro neon com a frase “deve ser aqui”. Confesso que pensei em ser mais um lugar com muita história para contar e pouca comida deliciosa.
Fui chegando devagar no Futuro, perto de casa, resolvi dar a chance, primeiro foi um almoço, que já me quebrou a perna do preconceito. Com um menu focado em vegetais, grãos e frutas, experimentei o sistema do almoço de quatro plantas, e escolhi o pappardelle com pesto do jardineiro, berinjela com miso e gergelim, curry amarelo de vegetais, leite de coco, grão-de-bico, cogumelo, arroz basmati e o corn bread, ricota e alho poró, todos em pequenas porções que formam um belo almoço, tudo delicioso e cuidadosamente preparado. Sai satisfeita e consciente de que ainda não tinha provado nada igual em São Paulo, quando penso em originalidade e qualidade dos alimentos.
Mas, mesmo com a boa experiência no almoço, o que me fez querer voltar sempre no Futuro Refeitório, foi o café da manhã que é servido o dia inteiro. Sabendo disso, gostaria de falar para vocês o que é a torrada de fermentação natural com a ricota caseira deles junto com um café coado: Falar que ela é grande, bem macia por dentro e borda crocante, e a ricota caseira que eu consigo desejar todos os dias da semana seria muito pouco, vocês vão ter que provar. Larissa provou e amou, me entendeu. Pedimos também dessa última vez o Chai Latte quente e o iogurte com granola caseira, lascas de coco e chocolate, que achei interessante, mas não incrível.
Seguimos andando pela cidade, num dia com clima ameno em SP. Quando as pernas já estavam cansadas, decidimos voltar para Pinheiros e almoçar no segundo lugar que eu considero “respiro e casa”: O Pita. Meu restaurante preferido aqui. O Pita serve comida árabe, um tipo de culinária que eu ainda não tinha experimentado. Primeira surpresa para o meu paladar inocente, logo que cheguei.
Dessa vez, com Larissa, dividimos tudo. Pedimos uma entradinha de falafel recheado com coalhada seca, e um só prato com um acompanhamento a mais (cuscuz marroquino) que foram suficientes para nós duas. Escolhemos a couve-flor como base do prato, que acompanha a salada com folhas escuras sempre frescas regadas de um molho agridoce dos céus (você pode escolher o tabule e fritas), pepino em conserva, tomate assado, homus e coalhada seca. Delicioso! Ah, os pratos no pita acompanham sempre uma porção de pão árabe, fortalecendo o encanto.
Amo tudo que já experimentei no Pita, e para além das comidas, amo como os pratos me oferecem a possibilidade de mudar o padrão do jeitinho de comer no dia-a-dia. Sempre me sinto num ritual, em que vou misturando os sabores e temperos como uma mágica que se forma na hora de se alimentar. Numa garfada banhar um falafel quentinho no homus, na outra a couve na coalhada seca, depois deitar os talheres sobre a mesa e pegar com as mãos o pão árabe e molhar com o tahine. Tudo combina incrivelmente bem e a comida incentiva à contemplação, sabe? Dá conta de comer devagarzinho. Ah, eles também servem quatro pastas para acompanhar o prato e os pães que são igualmente deliciosos.
No final, já satisfeitas, o gerente tomando consciência da minha falha de nunca ter experimentado nenhuma sobremesa nos serviu uma fatia da torta zebra. Acho que ele tinha consciência de que aquele seria um caminho sem volta, agora eu tenho mais um motivo de ir ao Pita e mesmo não sendo uma pessoa dos doces, aquela torta com chocolate amargo e biscoito maisena encaixou perfeitamente com meu almoço. Agora um café expresso e estou feliz da vida.
Foi nesse contexto, que nos últimos três meses perdi as contas das vezes que fui ao Pita. Já fui junto de tanta gente querida que mora na cidade, com tanta gente amada que estava só de passagem, já fui sozinha depois de um dia inteiro de carnaval, para bater um papo ligeiro com os garçons sempre queridos e atenciosos. Para mim, não tem hora ruim de ir ao Pita é sempre um bom lugar, uma boa escolha.
Futuro Refeitório
R. Cônego Eugênio Leite, 808 – Pinheiros, São Paulo – SP, 05414-001 (11) 3085-5885
Pita
R. Francisco Leitão, 282 – Pinheiros, São Paulo – SP, 05414-020 (11) 3774-1790
Fotos: Beatriz Xavier