Existem duas coisas que eu sei fazer bem: escrever e simplificar. Simplificar é mais uma necessidade do que uma vontade, já que eu não funciono bem no meio do “muito”: muito barulho, muita roupa, muita gente, muitos objetos, muitos ingredientes. Por isso, ao longo da vida, acabei aceitando um movimento natural de ir simplificando as coisas ao meu redor até chegar no meu ponto de conforto. Tira um pouquinho de lá, completa com o que já estava aqui, e pronto! É assim que eu me visto, que eu decoro a minha casa, que eu desenvolvo minhas ideias, e (claro!) é assim que eu cozinho.
Aliás, eu passei anos e anos da minha vida achando a cozinha um lugar intimidante e complexo demais para eu explorar. Como faço para acertar o ponto da carne? Como as pessoas conseguem limpar frango? O que eu faço com a cenoura além de ralar e colocar na salada? Eu cozinhava porque tinha que comer alguma coisa, e com frequência o bife ficava duro e o peixe ficava sem graça. Eu, definitivamente, não sabia o que estava fazendo e não funcionava sem uma receita detalhada para seguir. Cozinhar era mais uma necessidade do que um prazer (o que era uma pena, porque eu adoro comer!).
Então, em 2014, algo mágico aconteceu! Eu já vinha gravitando, naturalmente, na direção da alimentação vegetariana, e em janeiro desse ano, meu marido e eu decidimos testar e ver como seria a vida como veganos. Foi maravilhoso! Meu mundo se abriu, se ampliou! A cozinha virou meu lugar favorito da casa. Aprendi a fazer leite de amêndoas, queijo de castanha de caju, hambúrguer de lentilhas. Aprendi pelo menos seis formas diferentes de preparar a tal cenoura, e achei os legumes muito menos intimidantes do que as carnes. Eu só tinha que lavar, descascar e picar. Tudo tão… simples!
De lá para cá se passaram apenas quatro anos, mas eu sinto como se fosse muito mais! Comecei seguindo receitas, fui adquirindo confiança para experimentar aqui e ali, criei um blog para me desafiar a criar e me soltar mais, e hoje posso dizer que tenho meu jeito, meu sabor, MINHA comida.
E isso me leva para o começo deste texto, onde eu disse que, além de simplificar, eu sei escrever. Quando recebi o convite da Thamires para ser colunista, eu soube que não teria como falar sobre outra coisa a não ser sobre a simplicidade deliciosa que eu encontrei na cozinha quando transformei os vegetais nos protagonistas de cada refeição.
Eu cozinho com poucos ingredientes, em poucas panelas e com poucos utensílios. Quanto menos coisas ocupam meu espaço físico, mais lugar encontro na minha cabeça para criar, experimentar, me divertir no processo. Então, vamos juntos, vocês e eu, para dentro da cozinha, explorar todas as possibilidades escondidas por trás do simples, do menos, do essencial.
Foto: Tainá Frota