Gente, essa é minha primeira coluna, então vou contar para vocês: eu sou um ser humano muito disciplinado na dieta durante a semana – nível blogueira fitness, juro. Mas, sempre planejo aquela refeição triunfal de saída da dieta no fim de semana e, sabendo que ia pra Nova Iorque no Saint Patrick’s day, já perguntei para a rapaziada o que valia mesmo a pena comer por lá para lavar a alma. Uma das primeiras recomendações foi comer chicken and waffle no restaurante Amy Ruth’s. Considerando que meus amigos achavam um absurdo eu nunca ter comido chicken and waffles na vida (não é uma combinação muito usual pra nós da terrinha tropical, né?), foi pra lá que decidimos ir.
Depois de quase três horas de viagem de carro de Washington para NY, chegamos em jejum e famintos no Amy Ruth’s. Agora pausa pra contextualização antes de falar para vocês da comida. O Amy Ruth’s fica no Harlem, um bairro famoso por ser um reduto da cultura afro-americana. De um assentamento holandês no século XVII, o Harlem se tornou símbolo da cultura negra nos Estados Unidos em 1920 com o Harlem Renaissance – uma explosão cultural de pensadores, intelectuais e artistas negros, embalados principalmente pelo boom do jazz. Na década de 60, o Harlem foi marcado pela luta pelos direitos civis e ali ocorreram importantes discursos do Martin Luther King e de Malcom X. Depois dos anos da alta criminalidade em NY, e em especial no Harlem, o bairro passa de zona proibida para turistas a um dos bairros mais interessantes para se visitar.
A música, a arte, a religião e a comida afro-americanas são bem presentes no bairro e o Amy Ruth’s faz parte dessa vibe. Além de oferecer comida sulista (uma região também marcada pela influência negra), todas as paredes do restaurante são cobertas por murais de grandes personalidades negras: Obama, Aretha Franklin, Magic Johnson, Ella Fitzgerald, Oprah e mais centenas. O restaurante não é chique ou hipster, gente. São dois grandes salões divididos em dois andares, os móveis meio antigos, a louça também, mas o atendimento incrível e aquele climão de almoço de domingo, sabe? O pessoal vai pro Amy Ruth’s com grandes grupos, comer com as crianças, ou mandar aquele almoço gorduroso de ressaca com os amigos (claramente nosso caso). Então a expectativa toda estava focada na comida.
Vim com três amigos e todos pedimos a mesma coisa, o chicken and waffle clássico do menu que chama Reverend Al Sharpton. Esperando ansiosamente meu waffle, eis que o garçom me surpreende com um corn bread (pão de milho) quentinho para comer com manteiga. Essa entradinha é de graça e se trata do que chamamos de broa de milho no Brasil, mas um pouco mais doce. Passados alguns minutos, chegam nossos waffles.
Honestamente não sabia bem o que esperar. Chegou um waffle dourado e cheiroso, com um quarto de frango frito em cima (pedimos a opção de carne escura, que vem a parte da coxa e asa, em vez da parte branca, que contém o peito). Os amigos americanos me instruíram a colocar maple syrup por cima e mandar ver. Comecei assim meio cabreira, né? Nem sabia direito como combinar esse negocio de xarope, frango e waffle, mas que “maravilhosidade” (licença poética). Nunca comi as três coisas juntas, mas sei que um waffle crocante e levinho é uma arte, assim como um frango frito sequinho e saboroso, e a combinação para minha surpresa foi uma delícia. Não torçam o nariz antes de experimentar!
Com o bucho cheio voltamos para rua. Um olhar agora mais atento (passada a fome) nos faz notar as famílias, predominantemente negras, as lojas com artigos de referência africana, salões de beleza especializados em tranças e penteados para cabelos afros. Mas claro que a globalização está em toda parte e ouvimos um “Bum bum tam tam” vindo alto de um carro. Dancei no meio da rua (porque é isso que o imigrante com saudade de casa faz) e seguimos de volta pra Washington.
Amy Ruth’s: 113 W 116th St, New York, NY 10026, EUA +1 212-280-8779