Verdade que quando a gente pensa em Jerusalém a primeira coisa que muuuito provavelmente vem na cabeça é a peregrinação religiosa ou assuntos relacionados. Epicentro e motivo de disputas milenares das três principais religiões monoteístas do mundo, essa cidade vai além do clichê “tem história para contar”. Tanta história que prefiro que você busque no Google (ou melhor, numa fonte mais confiável) tudo o que aconteceu ali. E que leia livros, assista filmes. Mesmo. Uma historia linda, triste, dura e santa que todo mundo deveria e merece conhecer.
A cidade é intensa, o povo é intenso. A gente vê muitos judeus ortodoxos e suas vestimentas tradicionais caminhando entre turistas chineses e americanos e tantos outros do mundo todo. Mas tudo isso estava no script, eu sabia que essa parte da visita seria assim. O que me pegou de surpresa foi como comem os hierosolimitas. Com tanta preocupação e tensão nessa cidade dividida, eu imaginava que as regalias mundanas, como os prazeres da gastronomia, ficariam em segundo plano. Errei feio. Fique sabendo que eles comem e bebem muito bem, obrigada.
A primeira das três noites foi o baque inicial. Um restaurante que fica na parte nova de Jerusalém, dentro da escola de Belas-Artes Bezabel, é o melhor casamento entre chique e despretensioso. O Mona esbanja classe sem muito esforço. Na verdade, o restaurante fazia parte do famoso grupo Machneyuda, que detém os melhores e mais hipados restaurantes da cidade. Até que um dia, o restaurante decidiu sair do grupo e passou a ser comandado pelo chef, Moshiko Gamlieli. E tem seguido com muito sucesso. Decoração simples, com muros em pedras tradicionais expostas, playlist indie e pessoas que parecem estar sempre se sentindo bem na própria pele, não sei explicar.
Conseguimos reservar uma mesa sem muitas dificuldades. Fomos recebidos por dois jovens simpáticos e diretos, como a maioria dos israelenses que conhecemos. Ali mais uma vez ficamos muito satisfeitos com a qualidade do vinho local. Morando na França já há um tempinho, não acho que conheço vinhos como um sommelier, mas já dá para saber a diferença entre um vinho que “picota” na garganta e um vinho melhorzinho, e honestamente, o israelense está de parabéns.
Pedimos tartares de salmão e de atum. Dito assim parece sem graça, mas a textura fresca e macia dos dois peixes crus e os molhos que vieram de acompanhamento mereceram “humms” e “uaus” em repetição. Como prato principal, me joguei em um corte nobre de carne vermelha, porque, descobri que em Israel, eles sabem cozinhar e grelhar carne bem melhor que os franceses. Mas de tudo, o que realmente surpreendeu foi uma passata de tomate com alho e óleo. Um acompanhamento que parece bobo por demais, mas que foi o detalhe mágico do jantar. Como todas as melhores coisas da vida : simples e feito com amor. Shalom.
MONA 12, Shmu’el HaNagid, Jerusalem, Israël