Palermo, a Street-food e o umbigo do mundo: Ballaro.
Palermo é conhecida na Sicília por ser a capital do street-food, comida de rua e ambulante. Analisando a economia italiana, compreendemos rapidamente que a região não é das mais ricas e por isso é terreno fértil para a criatividade. O Pane con la milza (pão com baço de boi), o sfincione (pão esponjoso coberto com passata de tomate e anchovas) e a famosa arancina (espécie de coxinha feita de arroz e açafrão recheada) são os mais conhecidos. Nessa passagem relâmpago conseguimos provar os dois últimos. Confesso que prefiro os nossos salgados, mas entendo a fascinação.
Conseguimos também visitar o famoso Mercado Ballarò. A influência árabe é viva ali. Essa enorme feira ao ar-livre (ao que parece uma das maiores da Europa) me fez pensar muito no ambiente dos souks marroquinos e dos mercados de rua franceses: bancas com todos os tipos de verdura, carne, especiarias, doces, barraquinhas fazendo comida, bagunça, sujeira e gritaria. Uma menção verdadeiramente honrosa para os pescados: frescos, reluzentes, algumas vezes ainda vivos. Também nunca vi tão abundante e bonito no mundo.
Andando nesse mercado, fomos rapidamente abduzidos, ou seduzidos eu diria melhor, por um grupo de senhores na casa dos 60 anos que nos propunham a degustação de uma carne estranha. Com certeza eram peças de intestino, baço ou coisa do gênero. Decidi me aproximar, receosa. Um deles, dono do estabelecimento, Pipo, nos fez experimentar em um pratinho de plástico um corte desconhecido num tipo de salmoura e sumo de limão. Para não fazer feio, comemos. Fizemos bem. Ele nos deu também uma dose de um licor caseiro à base de vinho. Felicidade por apenas 3 euros.
PALERMO TAMBÉM TEM POMPA
Mas acho que o ponto mais alto dessa viagem foi um restaurante que reservamos meio que por acaso, depois de ter lido alguns guias e sites sobre a gastronomia local. Esse restaurante se chama Osteria Dei Vespri. Ele fica num bairro chamado Kalsa, atrás da entrada do Palazzo Ganci. Nesse palácio magnífico, em 63, foi filmada a obra-prima do cineasta Luchino Visconti: Il Gattopardo, com Alain Delon e a vedete Claudia Cardinale. Apenas por essa razão já valia a pena.
Essa Osteria é mais que charmosa. Um ar quase medieval, com vigas de madeira. Pequena, luz âmbar, música francesa. (Agora que eu moro a França não curto mais música francesa no restaurante, mas entendo o delírio). Fomos recebidos por uma moça elegante, sorridente pero no mucho, e ela nos instalou em uma mesinha modesta escondidinha embaixo da escada, porém romântica. Tudo o que a gente gosta. (Passei também a prestar bastante atenção no serviço de mesa).
A execução foi perfeita, desde os amuses-bouches inspirados da comida de rua palermitana até a sobremesa . Os pratos principais: ravioles de cordeiro e canelones com trufas, finos, delicados, saborosos, marcantes mas nunca deselegantes. Tudo com uma bela garrafa de vinho natural siciliano.
Os doces merecem um paragrafo a parte. Os chefs Andrea e Alberto Rizzo conseguiram, neste restaurante, juntar a tradição siciliana com a modernidade da cozinha gastronômica de alta qualidade. De deixar muitos restaurantes parisienses esnobes no chinelo. Uma das sobremesas era um crumble de bananas, menta, mel perfumadas em flor de laranjeira. Do ladinho veio uma mini porção de sorvete de pistache. Eu não sabia se estava no Magreb, na Itália, na casa da minha avó ou simplesmente em um sonho.
E claro, antes do doce tinha um pré-doce. Depois do doce tinha biscoitinhos açucarados para acompanhar o café. Se não fosse assim, não era a Sicilia.
Mercado Ballarò: aberto todos os dias, de 07h30 às 20h de segunda à sabado e até 13h no domingo. Se estende desde a Piazza Casa Professa até o bastião do corso Tukory .
Osteria Dei Vespri: Piazza Croce dei Vespri, 6 Tel: +39 091 617 1631
Fotos: Edouard Ormancey